terça-feira, 5 de novembro de 2013

Cão como nós


Porque muito tenho ouvido de Manuel Alegre                          

Eu ofereço-lhe o Timbuktu, a existência heróica de Mr. Bones. Ela adora-o. Chora, até! – segundo me confidencia mais tarde. Compreendo cada uma das suas lágrimas. Sinto-as como minhas, embora não tenham brotado de mim. É uma narrativa fantástica!
Mas curioso, intrigante mesmo, viria a ser o que acontece dias depois de ela ter viajado com Bones até Timbuktu.
- “Lembrou-me o Cão Como Nós” do Manuel Alegre, é muito similar – refere num tom tão dela…
Comprei-o… Li-o… Adorei-o!
É a retrato da vida de Kurica, um épagneul-breton que, por três gerações, acompanhou a família de Manuel Alegre.
Mas este, tal como Bones, não era um cão como os outros. "Este cão é um sacana, caça um bocado e depois põe-se a fazer a parte...”. Kurica era “rebelde, caprichoso, desobediente, mas um de nós, o nosso cão, ou mais que o nosso cão, um cão que não queria ser cão e era cão como nós” – escreve o poeta.
Tinha a mania das grandezas. Era emproado, fino, fidalgo, exibicionista e altivo. Um cão que falava. Sim, porque a fala surge antes das palavras, e Kurica, embora não as usasse, falava com os seus.
            É uma homenagem a um membro da família, um elemento que parte. É a descrição de um ente que foi amado, acarinhado pelos mais pequenos, pelos filhos, e visto com maior distanciamento, até com alguma frieza, arrisco, ‘paternalmente’ (embora houvesse ali amor tão bem dissimulado). Expressos ficam também sentimentos de harmonia, lealdade, dor, respeito e mais do que tudo o resto… saudade.
            É um livro fantástico e a mim, particularmente, muito me lembrou o verão passado… Por mim, Kurica poder-se-ia muito bem chamar XL, aquele a quem também meu pai apelidava de fino e fidalgo. – E era, de facto!

junho de 2010

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