sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Plantador de Palavras Vendedor de Lérias



Este plantador de palavras e ao mesmo tempo vendedor de cantatas é o auto-denominado “melhor escritor vivo da Rua Direita da cidade de Angra do Heroísmo”, mas que na realidade, vive na cidade de Coimbra há mais de 30 anos!
O título deste escrito é o mesmo de uma das suas obras, ganhadora, aliás, do 1º Prémio Miguel Torga, em 1984.
Trata-se de uma composição escrita fabulosa, dotada de um realismo satírico e de uma comicidade muito pouco frequentes em autores portugueses contemporâneos.
Nostálgico q.b., Vasco Pereira da Costa relembra e retrata a sua cidade berço de uma forma peculiar, cómica, satírica e por tantas vezes mordaz – […isto não é a Itália. É a mui nobre leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo]. Irónico como só ele próprio o sabe, pinta um retrato muito pouco ficcionista, permitam-me a opinião, duma gente do seu passado, de uma sociedade ida, mas por demais marcada na sua adolescência.
Neste livro o autor não se sente impedido de comunicar directamente com os seus leitores, dando-lhes explicações adicionais para que a mensagem seja passada na sua íntegra. Ele fala connosco para que melhor percebamos a sociedade angrense de outros tempos, desloca-nos o pensamento a anos idos e situa-nos ‘num meio urbano tão rural’ como qualquer outro hoje em dia. Conduz-nos por uma cidade onde um governador civil e três governadores militares; cinquenta e sete prostitutas; dezanove bombeiros voluntários que voluntariamente vão de borla ao cinema; vinte e cinco meninas que namoram à janela, e estatísticas de ontem, catorze desfloradas de saguões; (…) três parvos oficiais (…) quarenta e sete bêbados e oito senhores que andam às vezes alegrinhos (…) sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da mão direita (…) coexistem de forma mais ou menos letárgica com figuras como Dona Carlota, a Irmã do Senhor Almirante.
Possuidor de uma capacidade de escrita ao alcance de muito poucos, nomeadamente no campo da lexicologia e da significação, ler Vasco Pereira da Costa revela-se um exercício moroso, por vezes extenuante, mas sempre efusivo, já que sabemos de antemão que na “próxima linha” um sorriso maior em nós se desenhará.
 Assim é este senhor, assim é este autor, um verdadeiro ficcionista das nossas realidades.
É imperdoável que não se lembrem do encontro de Nixon com Pompidou na ilha Terceira – tão importante como o passo da humanidade do Amstrong ou como os 5-3 à Coreia no Mundial de 66. Decerto que não vos caiu da memória como uma noz podre…
Não o ler é crime!

Fotografia: @ google

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