quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Heróis à moda dos Açores, mas pouco...



Embora já familiarizado com a coleção Heróis à Moda de…, devo confessar que apenas recentemente li o volume que visa ‘representar’ o arquipélago dos Açores.
Atendo-me à coleção, expresso total agrado para com os objetivos preconizados pelo seu coordenador geral, João Carlos Brito, no jornal Açoriano Oriental [on-line] de alavras e expressões típicas dos falantes dos Açores”, assim como “abordar os regionalismos, as chamadas linguagens marginais, calão, gírias de um determinado grupo de falantes”. Especulo que um dos traços deste projeto passasse, ainda, pelo emprego de tais vocábulos e/ou expressões tipicamente açorianos em contos que versassem feitos de heróis das ilhas.
Para qualquer amante (não purista) da língua, estes volumes geográficos serão um verdadeiro gáudio literário. Para além disso, esta vertente da língua portuguesa, do léxico, em particular, está efetivamente em agoniante necessidade de preservação logo, todo o apoio que se lhe possa prestar será, com toda a certeza, bem-vindo.
No entanto, a literatura (especialmente a apoiada pelas entidades públicas) não pode ser apenas entretenimento e, finda a leitura de “Heróis à moda dos Açores”, fiquei com a triste sensação de que para parte dos intervenientes nesta edição açórica, não passou disso mesmo, tal é a dicotomia que vislumbro em termos de qualidade textual.
Deceção foi o sentimento geral experimentado! Malogradas expetativas, momentaneamente alimentadas aqui e além por quem optou por impor um pouco mais de alma neste, que tinha muito para ser um grande projeto. Julgo que os Açores mereciam mais e melhor, e açorianos com a capacidade para o fazerem, também os há! Ou então, menos e melhor: subtraísse-se à coletânea ‘metade’ dos textos editados e conseguiríamos ir além do primário, do rudimentar, do mau!
Alguns dos escritos - os bons - são verdadeiros contos. Composições que cumprem com o desígnio de qualquer texto imerso em literariedade. Estes levaram-me além do lugar e do tempo em que foram descritos. Compaginando cada ação narrada, vi-me absorto pelo meio ambiente que eu próprio ia idealizando, recreei cada ação levada a cabo pelas personagens que eu próprio fui construindo, tal a qualidade emprestada às descrições, acrescido de momentos hilariantes, mormente criados pelo léxico empregue. Nestes, para além de entrever os objetivos originais da coleção, reconheço-lhes qualidade mais do que suficiente para que cumpram o propósito inicial da compra, para que os possa lecionar aos meus alunos, sem qualquer receio de os prejudicar nas suas aprendizagens ou no desenvolvimento de competências, já que reconhecerão, com toda a certeza, parte do seu património oral, tradicional.

Quanto aos outros, por certo não serei eu a dá-los a conhecer aos aprendentes que tenho ou terei pela frente. Não valem a pena, nem cabem nesta coletânea. Não percebo como aqui chegaram mas não passam de meras frases pautadas com algumas palavras foneticamente semelhantes “aos dizeres açorianos”. Funde-se o bom e o muito mau, no que me parece uma paupérrima tentativa de se elevar alguns dos que moram atrás do texto.
Lamentável!

foto @google

Sem comentários: