sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

A Fajã de Cima ou como a bota de cano se tornou mais atraente que o salto alto

Tanto quanto é do meu conhecimento, esta obra inaugura uma via nas letras açorianas: uma espécie de nonsense à inglesa, polvilhado por uma comicidade fina e pouco habitual na literatura que por cá se produz, num texto que é, como afirma Nuno Costa Santos, “uma viva declaração de amor à freguesia da Fajã de Cima […]”.
Quem disse que o absurdo não está na moda?
Parabéns, Luís!

domingo, 2 de dezembro de 2018

Homenagem ao professor Emanuel Jorge Botelho

Entre tantos outros méritos e motivos de interesse, o encontro literário "Açores Arquipélago de Escritores” homenageia – com irrefutável justeza – Emanuel Jorge Botelho, o homem que prometeu dar a cada palavra a sua palavra de honra!
Parabéns!
17.nov.18 || Arquipélago - Centro de Artes Contemporâneas


Poetas do nosso tempo

Os poetas - bem sabemos - são almas generosas, mas há uns que teimam em ser mais poetas do que outros! Obrigado, Daniel!
Foto: Capa de "Buarquianas", de Daniel Gonçalves

Há nesta imagem um poema por escrever!


quinta-feira, 22 de novembro de 2018

in Açoriano Oriental


Encontro Literário “Açores Arquipélago de Escritores”
Agora que se apagam as luzes e as cadeiras vagam, há que fazer um justo reconhecimento à realização do encontro literário, “Açores Arquipélago de Escritores”.
São Miguel e Ponta Delgada, em particular, já mereciam um acontecimento cultural desta natureza, desta qualidade e envergadura. As sessões foram de uma riqueza literária imensa: houve conversas interessantíssimas com pessoas igualmente interessantes e com as quais habitualmente só nos cruzamos nas páginas dos livros. Houve lançamentos de obras, cursos, apresentação de filmes, sessões direcionadas às escolas e às crianças, debates, mesas redondas onde fervilharam ideias estimulantes e, como não podia deixar de ser, as devidas homenagens àqueles que serão os maiores entre pares. A nossa cidade, mas também a nossa ilha e os Açores foram, de facto, um “porto de cruzamento de diferentes culturas e literaturas (…)”.
Gostei do que vi e do que ouvi; gostei dos que abrilhantaram os diversos palcos e nos enriqueceram com as suas ideias. Não foi necessário expender grande esforço para apreciar, com redobrada atenção, as intervenções de oradores como Onésimo Teotónio de Almeida, João de Melo, Daniel Gonçalves, Joel Neto, Emanuel Jorge Botelho, Gonçalo M. Tavares, Pedro Mexia, João Pedro Porto, entre outros.
Como se afirmou amiúde ao longo daqueles dias, inaugurar um encontro literário com esta pujança e sucesso, acarreta uma pressão imensa para os envolvidos na sua organização, já que a fasquia se encontra agora num patamar de excelência que, certamente, será mantida nos encontros que se hão de suceder.
Registei, com especial agrado, o empenho em descentralizar as várias sessões por diversos locais da cidade e da ilha, fazendo chegar o livro a um público mais vasto e, sobretudo, mais diversificado, mas sublinhei também, e com grande satisfação, a paridade de género entre os autores convidados. Enriquecer o programa do encontro com nomes como Renata Correia Botelho, Paula de Sousa Lima, Leonor Sampaio Silva, Mariana Magalhães e Cristina Quental (todas autoras que figuram no PRL), Isabel Rio Novo, Diana Marcum (vencedora de um Pulitzer), Clara Macedo Cabral, Lélia Nunes, Filipa Martins, Dulce Garcia, entre outras senhoras, foi uma verdadeira mais-valia que, certamente, em muito contribuiu para o sucesso do evento.
Da perspetiva da assistência, na qual me situo, este encontro literário foi um êxito estrondoso que em muito engrandece, primeiramente, a Literatura e depois Ponta Delgada, São Miguel e os Açores, em geral. Julgo que entramos agora na rota dos grandes acontecimentos literários que se realizam no nosso país e, aberta esta janela, haja discernimento por parte das entidades oficiais para perpetuá-la.
Por tudo isto e mais, e porque ninguém louva aquilo que não gosta, a todos os envolvidos, mas com especial destaque ao curador do encontro, o multifacetado Nuno Costa Santos, assim como aos parceiros que se uniram a este projeto, um reconhecido obrigado!
Para o ano, cá vos esperamos!
Telmo R. Nunes

21 de novembro de 2018

sábado, 25 de agosto de 2018

In Açoriano Oriental



Meridiano 28 O poder redentor das grandes histórias

Começam a rarear os bons adjetivos que qualifiquem condignamente a obra ficcional de Joel Neto, um dos expoentes mais cintilantes do atual panorama literário português. “Meridiano 28 O poder redentor das grandes histórias” é o último romance do autor de “Arquipélago” ou “Vida no Campo”, e nele é feita uma apologia ao amor, nas mais diversas formas de o sentir.

Podia ser Morgan Freeman, mas não era.”: eis a entrada que nos conduz a uma viagem no tempo, desde 2017 até 1939, com paragens obrigatórias em diferentes épocas e geografias mundiais. “Meridiano 28 O poder redentor das grandes histórias” arranca na Lisboa contemporânea, mas rapidamente se muda até uma Nova Iorque dos finais do século passado, onde C. Devon Fitzhugh, um excêntrico personagem, incita José Filemom Abke Marques, o narrador do romance, a escrever um livro, buscando a verdade sobre a presença de um agente nazi na ilha do Faial, arquipélago dos Açores.

A partir deste ponto, a ação desenvolve-se numa malha bastante complexa, mas nem por isso menos coerente. Com efeito, coerência e coesão entre todas as linhas narrativas nunca são colocadas em causa, e o rigor do detalhe encontra-se sempre presente ao longo de toda a diegese. Neste particular, sublinho o número de personagens enunciado na tábua inicial do romance – cerca de cem –, para que percebamos o trabalho hercúleo que o autor despendeu nesta intrincada teia de relações, para que da leitura resultasse – como resulta – uma escorreita sensação de que tudo se funde harmoniosamente.

O livro, que se divide em 5 partes, perpassa diversas épocas históricas e outros tantos pontos do globo, mas poder-se-á afirmar que o âmago do plot se reporta à ilha do Faial, nos idos anos 30 e 40 do século passado, a partir de onde o narrador se vê obrigado a reconstituir a vida de um familiar recém-falecido – Hansi Abke. Neste período, e com a II Guerra Mundial em pano de fundo, é-nos servida uma cidade da Horta cosmopolita, alegre, jovial, visitada amiúde por estrelas de cinema, desportistas e outros famosos de renome internacional, dos quais se destacam a bailarina Mitzi Mayfair ou o aviador Antoine de Saint-Exupéry, que amaravam no porto da Horta a bordo, entre outros, dos potentes Yankee Clipper, da Pan American.

Inversamente ao clima de guerra e à mortandade que cobriam de sangue quase toda a Europa continental, vivia-se então na pequena ilha do Faial um peculiar alheamento de todo aquele cenário dantesco. Ingleses e alemães conviviam em sã harmonia, fruto, sobretudo, da exploração dos cabos telegráficos, tão frutuosos na primeira metade do século passado. Uns e outros bailavam na Sociedade Amor da Pátria, faziam piqueniques nos locais mais idílicos da ilha, jogavam partidas de bridge, de ténis ou de croquet. Vivia-se um clima de aparente letargia face ao implodir de uma guerra com efeitos tão devastadores para ambas as partes.

«Natália (…) descrevia o naufrágio do U-581 ao largo da ilha do Pico, após um combate com uma flotilha de destroyers ingleses, em pleno Canal, a que muita gente pudera assistir a partir da doca da Horta (…)».

Ainda que de forma inusitada, todos na ilha pareciam querer assumir o papel de espetadores apáticos perante partição da Europa e do mundo.

Tal como em outras obras, também nesta, Joel Neto manifesta uma relação de amor com as ilhas açorianas, não se deixando cair, contudo, na tentação de se ater apenas a elas. A partir das ilhas dos Açores, mas olhando-as e integrando-as cuidadosamente num mundo mais amplo e complexo, ele compreende e (des)escreve um dos mais importantes acontecimentos da história de toda a humanidade. A sua cosmovisão, a sua concepção do mundo encontram-se bem patentes em cada uma das 420 páginas que perfazem a obra, mantendo, ainda assim, a génese discursiva na ilha, que nunca é deixada para trás. Não obstante tratar-se de um exercício de difícil execução (e isto é distintivo apenas dos grandes autores), ele vê os Açores como parte integrante de um mundo; o arquipélago é colocado lado a lado com geografias tão diversas como Lisboa, Nova Iorque, Friburgo, Porto Alegre ou Praga e, em momento algum, se nota ‘um forçar’ da açorianidade, antes se deixa transparecer um sentimento telúrico harmoniosamente integrado na mundividência própria do autor.

A este propósito não há como não recordar a mónita lançada por Daniel de Sá aos escritores açorianos, onde apelava que não cedessem aos lugares-comuns quando se tratasse de “cantar a terra”. Joel Neto interpreta isto na perfeição, não se inibindo de retratar os Açores sempre como parte de um todo maior, e fá-lo sem que isso belisque, um pouco que seja, a sua condição de ilhéu açoriano. Fá-lo com grande mestria, sem renegar, jamais, as origens que o trouxeram a este patamar de excelência, onde agora se encontra. Percebe-se que as fronteiras que a ilha impõe não foram suficientes para, de alguma forma, lhe manietar um espírito integral.

Por se retratar um período histórico que, pessoalmente, muito me diz, e pelo qual nutro especial interesse, confesso que a leitura que efetuei terá sido bem mais fugaz e sentimental do que propriamente técnica, mas confesso que não me arrependo. É um romance apaixonante, daqueles capazes de nos extasiar desde a primeira à última página.

Vale a pena ler autores açorianos!


Telmo R. Nunes
a 19 de agosto de 2018

domingo, 29 de abril de 2018

O mar

«o mar é como os deuses, porque não é deste mundo.»
 Emanuel Jorge Botelho, 30 crónicas (Vol. I), Letras Lavadas Edições || Artes e Letras Editora

sábado, 24 de março de 2018

Mercado tradicional


Há dois tipos de pessoas no mundo: os que apreciam os mercados tradicionais ao sábado de manhã, e os outros. Agrada-me pertencer ao primeiro grupo -- fascina-me a paleta de cores servida e à disposição do olhar; inebria-me o cheiro fresco a fruta colhida há pouco; seduz-me o pulsar das gentes que ali procuram a recompensa pela tez marcada pelo trabalho!

quinta-feira, 1 de março de 2018

Vamos falar de Literatura?



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Independentemente do que se possa sentir pela Literatura produzida nos Açores ou pelos autores açorianos, permitir-me-ei julgar que, com toda a justeza, estes deveriam ser acarinhados por todos, sem exceção. No entanto, tenho lido que, por cá, não haverá uma divulgação adequada ou, pelo menos, suficiente das obras dos autores regionais. Não sei se corroboro esta ideia, mas, confrontando-a com a realidade de outras regiões do país, parece-me, pelo menos, digna de reflexão séria.
Entremos, por exemplo, na livraria Bertrand de Ponta Delgada e vejamos, com algum cuidado, a prateleira que espreita ao fundo, anunciando a todos quantos ali passem: “Autores Locais”. Ora, não conheço estante com propósito similar em qualquer outra loja desta distribuidora nacional.
Depois, recorde-se o dinamismo da livraria Leya Solmar, esse “centro cultural” ao serviço da literatura de raiz açoriana, bem no centro da cidade de Ponta Delgada: lançamentos, tertúlias, “Livros do ano”, encontro com escritores, montras permanentes e exclusivamente dedicadas aos nossos autores.
Recordemos, também, a pujança que agora demonstra o Centro Natália Correia, no que ao lançamento de obras de autores locais diz respeito.
Por outro lado, entrando numa das mais concorridas superfícies comerciais da ilha de São Miguel e dos Açores – Solmar, em São Gonçalo –, facilmente somos cativados pelas estantes exclusivas e repletas de livros de autores açorianos. Adite-se que as mesmas se encontram em local de grande destaque. Embora, pessoalmente, não aprecie a compra de literatura nestes espaços, a verdade é que eles existem, e são, efetivamente, uma forma prática de colocar o livro próximo do leitor.
Tenhamos em mente, também, o espaço semanal que os principais jornais da ilha conferem à recensão literária, tantas vezes dedicada à literatura produzida no arquipélago. Não sendo o ótimo, é já significativo e digno de registo!
Relembremos, entre tantas atividades de grande valia promovidas pelas editoras regionais, a “Festa do Livro dos Açores”, dinamizada pela Publiçor/Letras Lavadas, onde, à beira-mar e em plena época turística, centenas de títulos de autores açorianos puderam ser dados a conhecer…
Considere-se o destaque que “Temática Açores” traz aos autores locais! Um apêndice da CDU (Classificação Decimal Universal), a “Temática Açores” cataloga e deposita as obras de autores e temas açorianos em prateleira própria, conferindo-lhes claro destaque. Isto não é frequente fora do arquipélago! Em qualquer biblioteca fora dos Açores iremos encontrar a poesia de Antero bem próxima da do Camões, por ambos serem dois grandes poetas portugueses. Por cá, em algumas bibliotecas, um é açoriano, outro é português, e, por isso, “habitam” estantes distintas.
Atentemos no empenho que a Associação de Antigos Alunos do Liceu Antero de Quental tem vindo a despender junto dos atuais discentes e respetiva comunidade educativa, no sentido de promover a obra e o patrono daquela instituição.
Consideremos as Antologias de Autores Açorianos Contemporâneos (ed. AICL, Calendário de Letras) lançadas recentemente, uma, inclusivamente, bilingue, numa tentativa de fazer chegar aos nossos emigrantes o que de melhor se escreve pelos Açores, e outra privilegiando o texto dramático, tantas vezes encarado como “parente pobre” da nossa Literatura. Não esqueçamos os “Cadernos (e suplementos) de Estudos Açorianos”, onde vida e obra de 33 autores (!) são disponibilizados para consulta gratuita. Recordemos, ainda, a recente edição da “Bibliografia Geral da Açorianidade”, que contempla cerca de 19500 verbetes, inscritos em dois tomos de 800 páginas cada, totalmente dedicadas ao trabalho literário produzido sobre os Açores, açorianos e tudo que à Açorinidade respeita.
Por outro lado, tenhamos presente o empenho da SREC na integração da disciplina de História Geografia e Cultura dos Açores, na matriz curricular dos alunos açorianos. Creio tratar-se de um espaço onde facilmente se disseminarão os principais textos dos maiores vultos da Literatura produzida no arquipélago.
Contemos com os prémios literários (dois, pelo menos, de âmbito nacional) que privilegiam obras inéditas, referenciáveis aos Açores.
Tenhamos em mente que os Açores dispõem de um Plano Regional de Leitura próprio que, aproveitado em subaproveitamento, destaca dezenas de obras de alguma forma relacionadas com o arquipélago.
E depois, bem, depois há o esforço desenvolvido em cada Unidade Orgânica do sistema regional de educação. Embora creia que o oposto também possa ocorrer, julgo que, na grande maioria das escolas do arquipélago, os escritores açorianos são muito acarinhados, quer por alunos, quer pela generalidade do pessoal docente. Na realidade que conheço, são colocadas em prática diversas atividades específicas de promoção da Literatura produzida por cá. A cada ano letivo são trabalhados muitos autores, seja a nível biobibliográfico, seja através de oficinas de escrita ou a partir da sua própria produção textual, no apoio ao desenvolvimento de competências fundamentais. Sob a orientação dos professores de Português, algumas destas atividades são realizadas pelos alunos, em estreita colaboração com os próprios escritores, o que favorece sobremodo a aquisição de conceitos e/ou desenvolvimento de competências. Outras são levadas a efeito com a cooperação de Bibliotecas e outras entidades exteriores à escola. Refiram-se, também, os sempre enriquecedores encontros de alunos com autores, onde se incendeiam de curiosidade auditórios a abarrotar. Não menos importantes são as atividades desenvolvidas no interior das salas de aula, onde o professor de Português coloca em prática a silenciosa responsabilidade de difundir junto dos mais jovens aqueles textos de raiz açoriana de reconhecida qualidade literária.
Por tudo isto e mais, não creio que o problema esteja na difusão deficiente ou desadequada da obra dos autores açorianos. Eventualmente, considerando o todo nacional, até concebo que essa dúvida se coloque, mas, convenhamos, também não há especial destaque conferido aos escritores minhotos, alentejanos ou algarvios. É certo e desejável que mais e melhor poderá ser feito, mas é, também, inegável o esforço que se tem produzido no sentido de engrandecer os “nossos nomes de referência”!
Do meu ponto de vista, o motivo de tais considerações encontra-se no fraco volume de vendas que estas obras arrecadam. No entanto, a explicação encontrar-se-á a jusante de todo este processo. De uma forma geral, as pessoas leem muito pouco, e, quando por algum motivo o fazem, dão preferência, quase sempre, aquele escritor da moda, aquele que até escreve umas “frases bonitas”, e as transforma em posts coloridos por essas redes sociais fora.
Bem sabemos que, tendencialmente, não valorizamos o que é nosso, mas, no que à Literatura produzida nos Açores diz respeito, parece-me até que muito se tem conseguido, e ainda bem! Tudo aquilo que se puder fazer para engrandecer a Literatura de raiz açoriana será, com certeza, bem-vindo por todos aqueles que honram este “arquipélago de escritores”!
Afinal, como já afirmou um reputado crítico literário português, “Há qualidade açoriana para um Prémio Nobel”.
A todos, boas leituras!
Telmo R. Nunes
a 28 de fevereiro de 2018

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Quem tem amigos...


Não percebi muito bem como tal terá acontecido, mas a verdade é que só quando fui arquivar a Revista GROTTA #2 é que depreendi que não comprara a número 1, correspondente ao ano de 2016! Ups...
Livrarias, hipermercados, vendas online » ESGOTADA!

Palavra puxa palavra, contacto puxa contacto... Chegou hoje!
Nice!


sábado, 10 de fevereiro de 2018

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Treasure Island



Eu sempre acreditei que o Capitão Flint, o Long John Silver e jovem Hawkins tinham passado por Ponta Delgada! Aqui fica a prova cabal!


Esta sim é a verdadeira "Ilha do Tesouro"!

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

na ausência do GPS...

«(…) decide comprar um mapa e, se lhe tivessem feito a pergunta se ia viajar, responderia afirmativamente. Precisava de encontrar novamente o caminho que atrás deixara perdido. Sentia a falta daquela seguridade típica de quem percorre o trilho com a certeza de encontrar aquilo que deseja e, por isso, resolveu comprá-lo.
Seria um mapa pequeno, nada de muito complicado. Não teria ruas, nem estradas, nem locais, nem nomes, nem nada. Aliás, no seu mapa não haveria nada escrito ou impresso. Seria apenas uma folha em branco onde, a custo, iria então desenhar a estrada pela qual pretendia caminhar.
No local de venda, por certo, haveria vários. Alguns até bem mais bonitos! Uns maiores, outros mais coloridos, alguns novos, outros gastos pelo tempo. Mas por esses já ela se tinha guiado e o resultado nunca fora muito auspicioso. Ao fim de pouco mais de três passadas, invariavelmente, verificava que estava completamente perdida, o que a obrigava sempre a um recuo indesejado.
Agora, com o seu novo mapa, a jornada seria um pouco diferente. Tomaria a direcção certa e, aos poucos, alcançaria o tão desejado descanso.»


Telmo Nunes, Inês A Dualidade de uma Vida, Págs. 60 – 61 Chiado Editora, 2012