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Independentemente do que se possa
sentir pela Literatura produzida nos Açores ou pelos autores açorianos,
permitir-me-ei julgar que, com toda a justeza, estes deveriam ser acarinhados
por todos, sem exceção. No entanto, tenho lido que, por cá, não haverá uma
divulgação adequada ou, pelo menos, suficiente das obras dos autores regionais.
Não sei se corroboro esta ideia, mas, confrontando-a com a realidade de outras
regiões do país, parece-me, pelo menos, digna de reflexão séria.
Entremos,
por exemplo, na livraria Bertrand de Ponta Delgada e vejamos, com algum
cuidado, a prateleira que espreita ao fundo, anunciando a todos quantos ali
passem: “Autores Locais”. Ora, não conheço estante com propósito similar em
qualquer outra loja desta distribuidora nacional.
Depois,
recorde-se o dinamismo da livraria Leya Solmar, esse “centro cultural” ao
serviço da literatura de raiz açoriana, bem no centro da cidade de Ponta
Delgada: lançamentos, tertúlias, “Livros do ano”, encontro com escritores,
montras permanentes e exclusivamente dedicadas aos nossos autores.
Recordemos,
também, a pujança que agora demonstra o Centro Natália Correia, no que ao
lançamento de obras de autores locais diz respeito.
Por outro
lado, entrando numa das mais concorridas superfícies comerciais da ilha de São
Miguel e dos Açores – Solmar, em São Gonçalo –, facilmente somos cativados
pelas estantes exclusivas e repletas de livros de autores açorianos. Adite-se
que as mesmas se encontram em local de grande destaque. Embora, pessoalmente,
não aprecie a compra de literatura nestes espaços, a verdade é que eles
existem, e são, efetivamente, uma forma prática de colocar o livro próximo do
leitor.
Tenhamos em
mente, também, o espaço semanal que os principais jornais da ilha conferem à
recensão literária, tantas vezes dedicada à literatura produzida no
arquipélago. Não sendo o ótimo, é já significativo e digno de registo!
Relembremos,
entre tantas atividades de grande valia promovidas pelas editoras regionais, a
“Festa do Livro dos Açores”, dinamizada pela Publiçor/Letras Lavadas, onde, à
beira-mar e em plena época turística, centenas de títulos de autores açorianos
puderam ser dados a conhecer…
Considere-se
o destaque que “Temática Açores” traz aos autores locais! Um apêndice da CDU
(Classificação Decimal Universal), a “Temática Açores” cataloga e deposita as
obras de autores e temas açorianos em prateleira própria, conferindo-lhes claro
destaque. Isto não é frequente fora do arquipélago! Em qualquer biblioteca fora
dos Açores iremos encontrar a poesia de Antero bem próxima da do Camões, por
ambos serem dois grandes poetas portugueses. Por cá, em algumas bibliotecas, um
é açoriano, outro é português, e, por isso, “habitam” estantes distintas.
Atentemos
no empenho que a Associação de Antigos Alunos do Liceu Antero de Quental tem
vindo a despender junto dos atuais discentes e respetiva comunidade educativa,
no sentido de promover a obra e o patrono daquela instituição.
Consideremos
as Antologias de Autores Açorianos Contemporâneos (ed. AICL, Calendário de
Letras) lançadas recentemente, uma, inclusivamente, bilingue, numa tentativa de
fazer chegar aos nossos emigrantes o que de melhor se escreve pelos Açores, e
outra privilegiando o texto dramático, tantas vezes encarado como “parente
pobre” da nossa Literatura. Não esqueçamos os “Cadernos (e suplementos) de
Estudos Açorianos”, onde vida e obra de 33 autores (!) são disponibilizados
para consulta gratuita. Recordemos, ainda, a recente edição da “Bibliografia
Geral da Açorianidade”, que contempla cerca de 19500 verbetes, inscritos em
dois tomos de 800 páginas cada, totalmente dedicadas ao trabalho literário
produzido sobre os Açores, açorianos e tudo que à Açorinidade respeita.
Por outro
lado, tenhamos presente o empenho da SREC na integração da disciplina de
História Geografia e Cultura dos Açores, na matriz curricular dos alunos
açorianos. Creio tratar-se de um espaço onde facilmente se disseminarão os
principais textos dos maiores vultos da Literatura produzida no arquipélago.
Contemos
com os prémios literários (dois, pelo menos, de âmbito nacional) que
privilegiam obras inéditas, referenciáveis aos Açores.
Tenhamos em
mente que os Açores dispõem de um Plano Regional de Leitura próprio que,
aproveitado em subaproveitamento, destaca dezenas de obras de alguma forma
relacionadas com o arquipélago.
E depois,
bem, depois há o esforço desenvolvido em cada Unidade Orgânica do sistema
regional de educação. Embora creia que o oposto também possa ocorrer, julgo
que, na grande maioria das escolas do arquipélago, os escritores açorianos são
muito acarinhados, quer por alunos, quer pela generalidade do pessoal docente.
Na realidade que conheço, são colocadas em prática diversas atividades
específicas de promoção da Literatura produzida por cá. A cada ano letivo são
trabalhados muitos autores, seja a nível biobibliográfico, seja através de
oficinas de escrita ou a partir da sua própria produção textual, no apoio ao
desenvolvimento de competências fundamentais. Sob a orientação dos professores
de Português, algumas destas atividades são realizadas pelos alunos, em
estreita colaboração com os próprios escritores, o que favorece sobremodo a
aquisição de conceitos e/ou desenvolvimento de competências. Outras são levadas
a efeito com a cooperação de Bibliotecas e outras entidades exteriores à
escola. Refiram-se, também, os sempre enriquecedores encontros de alunos com
autores, onde se incendeiam de curiosidade auditórios a abarrotar. Não menos
importantes são as atividades desenvolvidas no interior das salas de aula, onde
o professor de Português coloca em prática a silenciosa responsabilidade de
difundir junto dos mais jovens aqueles textos de raiz açoriana de reconhecida
qualidade literária.
Por tudo
isto e mais, não creio que o problema esteja na difusão deficiente ou
desadequada da obra dos autores açorianos. Eventualmente, considerando o todo
nacional, até concebo que essa dúvida se coloque, mas, convenhamos, também não
há especial destaque conferido aos escritores minhotos, alentejanos ou
algarvios. É certo e desejável que mais e melhor poderá ser feito, mas é,
também, inegável o esforço que se tem produzido no sentido de engrandecer os
“nossos nomes de referência”!
Do meu
ponto de vista, o motivo de tais considerações encontra-se no fraco volume de
vendas que estas obras arrecadam. No entanto, a explicação encontrar-se-á a
jusante de todo este processo. De uma forma geral, as pessoas leem muito pouco,
e, quando por algum motivo o fazem, dão preferência, quase sempre, aquele
escritor da moda, aquele que até escreve umas “frases bonitas”, e as transforma
em posts coloridos por essas redes sociais fora.
Bem sabemos
que, tendencialmente, não valorizamos o que é nosso, mas, no que à Literatura
produzida nos Açores diz respeito, parece-me até que muito se tem conseguido, e
ainda bem! Tudo aquilo que se puder fazer para engrandecer a Literatura de raiz
açoriana será, com certeza, bem-vindo por todos aqueles que honram este
“arquipélago de escritores”!
Afinal,
como já afirmou um reputado crítico literário português, “Há qualidade açoriana
para um Prémio Nobel”.
A todos,
boas leituras!
Telmo R. Nunes
a 28 de fevereiro de
2018
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