Para os que não gostaram muito do texto "Heróis à moda dos Açores, mas pouco...", aqui fica um outro, também escrito por mim, a 30 de janeiro de 2010.
Não sou sectário!
Não sou sectário!
Uma
das muitas particularidades da zona onde nasci e da ilha onde actualmente
resido é, sem dúvida, a forma como as pessoas comunicam entre si. Seja em
termos de vocábulos ou até mesmo de sotaque, os tripeiros, assim como os micaelenses, são povos completamente
distintos em relação às demais comunidades que compõem este nosso Portugal, tão
rico no que às especificidades linguísticas diz respeito.
Estes
desvios à norma linguística, que ouso apelidar de “português riquíssimo e da
mesma forma marginal”, são uma riqueza cultural imensurável, mas que com o
decorrer dos anos, e com a globalização interna (se é que isso existe), a que
se tem assistido em Portugal – pela crescente circulação de pessoas e
informação – correm o sério risco de se diluírem no tempo. A norma surge-nos
agora como uma “ameaça” bem séria, e coloca em vias de extinção os dialectos,
os sotaques, os regionalismos ou até mesmo a gíria…
Receando
tão proeminente ameaça, eis que começam a surgir colectâneas de palavras/expressões
próprias de cada uma das regiões. Em relação ao micaelense, já muitos
glossários se têm produzido mas, no que o “portoguês” concerne, há um vazio
incómodo e incompreensível que parece estar perto do seu final.
A
ideia começou mais ou menos por brincadeira e com intuito único de recrear os
turistas que, deslumbrados com as belezas da cidade, iam ouvindo as expressões
típicas do “Puerto”. O passo seguinte rapidamente foi sugerido a estes
tradicionalistas, entreteiners (chamemos-lhes
assim), que ousaram “assassinar” algumas histórias tradicionais infantis em
função do ambiente onde estavam inseridos – ou seja adaptaram-nas à linguagem
usada em plena cidade “imbicta”.
Com
diferentes colaborações, com auxílio de entidades mais ou menos reconhecidas, o
terceiro passo foi dado. Este, com um carácter mais sério, e dotado de um
cunho, digamos, mais científico.
Desta
parceria, nasce o fantástico dicionário da língua “tripeira”. Uma antologia de
palavras/expressões tipicamente portuenses que designam um determinado ser que
noutro qualquer ponto do país é nomeado de forma completamente distinta…
“Bora
lá” recordar alguns deles:
·
Aloquete
– Cadeado
·
Andar
à gosma – Indivíduo malandro
·
Badalhoca
– Mulher desmazelada, prostituta
·
Barona
– Beata, ponta de cigarro
· Bisga
– Expectoração (pronto, é verdade, aqui aligeirei! No dicionário está escarro, mas como não gosto desta
palavra…)
·
Chuço
– Guarda-chuva
· Cimbalino
– Café expresso. (Já agora a palavra provém da “velhinha” máquina de café Lá Cimbali)
·
Cruzeta
– Cabide (esta tem histórias engraçadíssimas)
·
Estrugido
- Refogado
·
Foguete
– Rasgo nos collants das senhoras
·
Jeco
– Cão
·
Mânfio
– Astuto; Sabidola
·
Mijão
– Homem com sorte
·
Morcão
– Estúpido; Lorpa (A minha favorita!)
·
Pastelão
– Omeleta
·
Vai-te
quilhar – “Vai-te lixar”
·
Regueifa
– Pão em forma circular; Traseiro de senhora
·
Sameira
– Carica
·
Sertã
– Frigideira
·
Trengo
– Atrasado mental; Apalermado
·
Vai
no Batalha – Mentira (Alusão aos filmes passados no cinema Batalha).
É um começo. Este dicionário conta com cerca
de 500 entradas, mas muitas mais poderiam ter sido enquadradas, digo eu, que
deliro com estas “anomalias” da Língua Portuguesa!
Por isso mesmo, normalização? – Não,
obrigado!
1 comentário:
GOSTO DA CRUZETA ;)
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