A
pressa é inimiga da perfeição
Desde novembro último vivemos uma
época triste! Interrompeu-se escandalosamente um ciclo de retomas sustentadas,
para se recuperarem as políticas que conduziram ao estrangulamento do país.
Temos, desde então, um legítimo Governo
Constitucional chefiado por um derrotado em escrutínio nacional; somos governados
por pessoas que, ardilosamente, navegaram pelos subterfúgios da Constituição até
chegarem ao poder; temos, pelas alianças trocadas, um executivo governativo sustentado
mas refém daqueles que maldisse e pelos quais tantas vezes fora criticado.
Desde então, medidas avulsas foram perigosa
e apressadamente aprovadas pela maioria alargada no Parlamento: umas plenamente
irresponsáveis, outras carecendo de uma inexistente discussão pública.
Estranhamente, e no que se refere à
Educação, aboliram-se, a 27 de novembro, as Provas Finais do 1.º Ciclo, tendo a
tutela apenas publicado a 8 de janeiro seguinte o “Modelo integrado de
avaliação externa das aprendizagens no Ensino Básico”, que regula essa
abolição, assim como dita as novas linhas orientadoras de todo sistema de
avaliação externa. Trata-se de um conjunto de medidas que representa
tão-somente a destruição e a rutura (a meio do ano letivo) de todo um sistema
de avaliação, paulatinamente erigido desde o ano 2000, e que, reconhecidamente,
já conferia a necessária estabilidade e confiança a todos os agentes envolvidos
neste processo: pais e encarregados de educação, responsáveis pelas escolas,
professores e, essencialmente, aos alunos.
Era um processo sustentado que vinha
gradualmente a ser aperfeiçoado e, não me custa admitir, teria de ser revisto em
determinados aspetos da sua execução. Não obstante, o ímpeto fraturante dos parlamentares
mais à esquerda, assim como a nova equipa ministerial tal não o entenderam e
preferiram lançar a escola num mar de instabilidade e incerteza, demonstrando
um tremendo desrespeito pelo sistema escolar, assim como por todos os seus
agentes.
Segundo Tiago Rodrigues, o modelo
anterior era “errado” e “nocivo”, impelia à “exclusão” dos alunos, assim como
promovia a “cultura da nota”. Tal como para algumas parcelas da sociedade menos
esclarecidas em matéria de educação, a realização destas Provas Finais – rosto visível
de todo um sistema de avaliação – era um veículo que apenas servia para
“chumbar” alunos, para puni-los pelo seu fraco desempenho académico.
Claro que quem conhece bem o sistema
educativo, quem o percebe e convive com ele há anos, sabe que estas são falsas
questões. O próprio Conselho Nacional de Educação – CNE – acautela isso mesmo
no parecer emitido a propósito da “Avaliação
das Aprendizagens e Realização de Provas Finais no Ensino Básico”. No referido documento
(que estranhamente nem foi tido em consideração pelo Governo nas tomadas de
posição mais recentes, ainda que o mesmo tenha sido solicitado pela Comissão
Parlamentar de Educação) pode ler-se claramente que “a proporção dos alunos que
tendo obtido classificação interna positiva obtêm classificação negativa [pelos
exames/provas finais] situa-se entre 0,3 e 1,9% do total.” e que “O contributo
dos exames/provas finais do ensino básico para a retenção escolar não é relevante
(…)”, o que consubstancia que cerca de 99% dos alunos portugueses se enquadra
perfeitamente num sistema de ensino que, segundo os novos responsáveis
governativos, “não é inclusivo”! Se isto não é demagogia, o que lhe chamar?
À parte de toda a manipulação demagógica e dos
discursos popularuchos sobre a Psicologia Infantil, creio que o sistema
implementado nesta última década e meia, não era nem “errado”, muito menos
“nocivo”, como nos quer fazer crer o Ministério da Educação. Apresentava falhas
(algumas severas) que careciam de melhorias mas, no essencial, era um bom
modelo, e a prová-lo vários analistas trazem agora à discussão a evolução
positiva dos resultados obtidos quer nos testes PISA, realizados
internacionalmente, quer nos próprios exames nacionais.
Substituir uma prova que incide na classificação final
do aluno, por uma outra que não tem qualquer peso na avaliação final do ciclo,
representa um claro retrocesso de todo o sistema educativo. Caminhamos, outra
vez, para a desresponsabilização dos principais agentes educativos em todo este
processo. Dirigimo-nos, uma vez mais, para a indiferença perante um teste que será
pouco mais do que de diagnóstico. Embora lhe reconheça virtudes e perceba as
fundações em que assenta, embora até aplique a testagem de aferição/diagnóstico
a meio do ciclo de ensino com que habitualmente trabalho, não é aceitável a sua
utilização, em detrimento da avaliação facultada por uma Prova Final de Ciclo.
É consensual a obrigação de inculcar nos nossos alunos
a responsabilização, o sentido de empenho, o combate ao facilitismo e, acima de
tudo, o sentido do mérito e da recompensa advindos pelo esforço e pelo estudo. Só
desta forma alcançaremos “a
melhoria das aprendizagens e o sucesso escolar dos alunos”, que tanto
ambicionamos!
Telmo R. Nunes
a 15 de janeiro de 2016
1 comentário:
Palavra-chave: "desresponsabilização".
Excelente artigo de opinião! Parabéns!
Enviar um comentário