Esta prova diz-se de ingresso na carreira. Mas quem nela
obtenha aprovação não entra na carreira. Outrossim, quem leccione há 5,
10, 15 ou mais anos, sempre com avaliação de bom ou superior, os
miseravelmente explorados professores contratados, pode ser expulso do
exercício profissional. Isto tem um nome: canalhice. O qualificativo é
meu. Mas no espírito do juízo estou significativamente acompanhado:
Provedor da Justiça e, agora, Comissão Europeia.
Esta
prova mostra que o Ministério da Educação e Ciência não confia nas
instituições de ensino superior que formam professores e que nós,
portugueses, não devemos confiar no Estado. Com efeito, as universidades
e os politécnicos que formam professores não são clandestinos. Foram
reconhecidos pelo Estado como competentes para tal. Para operarem têm
que obedecer às exigências do Estado. O Estado impõe-lhes um número
mínimo de professores doutorados. Não são livres de conceber os seus
planos de estudo: o Estado impõe-lhes matrizes e, além disso, cada curso
sujeita-se ao livre arbítrio do Estado para obter autorização de
funcionamento. Não são livres quanto à admissão de alunos: o Estado
estabelece-lhes cotas. O Estado fiscaliza-as e pode fechá-las se deixar
de lhes reconhecer qualidade. O Estado é, pois, tutor de todas.
Às vítimas deste devaneio, todos aqueles que pagaram propinas durante
anos, está dito, em diploma legal, que obteriam uma habilitação
profissional, sublinho, profissional. Isto tem um nome: intrujice.
Esta
prova foi inicialmente concebida por um partido que agora a esconjura e
é agora defendida por outro que antes a arrasou. Isto tem um nome:
palhaçada.
Esta
prova trará ao ministério, em taxas de inscrições a pagar pelos
candidatos, um encaixe próximo do milhão de euros. A maioria dos
candidatos está no desemprego. Alguns terão que pagar centenas de euros
para se deslocarem aos locais onde as provas se realizam. Pela correcção
de cada uma, o ministério propõe-se pagar metade do que paga por hora a
uma funcionária de limpeza. Isto tem um nome: perfídia.
Esta
prova não acrescentará um avo de qualidade ao sistema. Pelo contrário,
vai diminui-la, pela lama e descrédito que bolça sobre a classe. Todos o
sabem menos Crato. Isto tem dois nomes: incompetência e ignorância.
Quando cantou “Os Vampiros”, Zeca Afonso leu aquele tempo e foi profeta: anunciou o nosso.
In "Jornal i" de 23.11.13
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