“Um livro singular, um enigma, um romance assombroso e assombrado.
A imensidão gelada da Antárctida é palco de uma improvável
história de amor. Edmée e Peter estão entre os engenheiros de uma estação
científica – o Projecto White –, na qual permanecerão por seis meses. Seis
longos meses durante os quais a escassa comunicação com o mundo exterior é da
inteira responsabilidade de Edmée, a única mulher entre os especialistas da
base.
Tanto Peter como Edmée fugiram de acontecimentos trágicos mas, ao
tentarem escapar ao passado, vêem-se sob o escrutínio dos espíritos que
vagueiam pelo Pólo Sul.” – Assim é escrita a sinopse a esta obra de Marie
Darrieussecq.
Dizer-se que se trata de um livro singular parece-me um pouco
exagerado, será mais um romance curioso, dotado de um bafejo de imaginação
acima da média.
A acção decorre em três momentos distintos, aliás muito bem
definidos pelos três capítulos em que se divide a obra: a viagem dos
protagonistas até ao Pólo Sul e todas as peripécias que lhes vão acontecendo, a
descrição da chegada e das suas funções no acampamento quase em ruínas e, por
último, o relacionamento amoroso que emerge da convivência entre Edmée e Peter.
O livro ganha especial relevo pelo espaço onde é apresentada a
acção – Pólo Sul - é, nesse aspecto, uma obra dotada de algum interesse tal é a
beleza relatada pela autora. Contudo, o que o mantém apetecível, também o torna
enfadonho, e isto porque para apresentar tão belas paisagens, viu-se a autora
obrigada ao recurso excessivo da descrição. Julgo que caiu mesmo no exagero já
que a determinadas alturas apetece mesmo abandonar a leitura…
Há neste livro um outro aspecto muito peculiar que o reveste inclusivamente
de algum humor e prende-se com a figura do narrador de serviço. Aqui quem
desempenha tal função são os fantasmas dos protagonistas, o que coloca uma vez
mais a capacidade de imaginação de Marie Darrieussecq em máxima evidência.
Em suma, é uma obra dotada de muita criatividade, (aliás pelo que
li é apanágio da autora) que, pela escrita quase poética, consegue recriar na
imaginação do leitor aqueles espaços tão profundamente marcados, como são os do
extremo Sul do Planisfério, mas de certo modo é um texto curto em acção, sendo
excessivamente composto por descrições nem sempre apetecíveis.
Apesar de tudo, recomendo…
22/Dezembro/08
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