quinta-feira, 14 de abril de 2022

É Páscoa! Aleluia! Aleluia!


“(…) e eles mataram-n’O, suspendendo-O na cruz.

Deus ressuscitou-O ao terceiro dia (…)”

São Lucas, Actos dos Apóstolos


 

Nove horas! Os sinos repicam no alto da torre sineira da velhinha Matriz de Paços de Ferreira.

É domingo de Páscoa!


Celebrada a missa pascal e anunciada a vitória da Vida sobre a morte, eis que surgem os primeiros sinais: os fiéis juntaram-se às centenas, dispersos pelo jardim municipal, mas todos de olhos pousados na saída do velho templo; todos, sem exceção, Lhe querem lançar um olhar respeitoso de alegria, de agradecimento ou admiração profunda.


Ouve-se a Banda Musical. Primeiro muito baixinho, depois, à medida que se aproxima, com mais clareza. Dirige-se à Matriz. Veio receber Cristo com as honras que Lhe são devidas.


Está tudo pronto!


Rompem no céu dezenas de foguetes. Os pássaros esvoaçam aturdidos e sem rumo. Dois ou três cães vadios correm sarapantados em direção ao velho carvalho centenário. Vão assustados! Ninguém sabe quem ou de onde foram lançados os foguetes, e as autoridades não se mostram muito consumidas com o facto! 


É Páscoa!


O cortejo que há de trazê-Lo às ruas abandona a Matriz. Já se vislumbram as crianças agitando ferozmente as sinetas que, a todos, hão de anunciar, ainda à distância, a aproximação da cruz. Por baixo da opa tingida de um vermelho já gasto, é vê-los todos aperaltados com roupas a estrear, mercadas de propósito para o domingo de Páscoa. Os mais avisados talvez se tenham lembrado de calçar uns sapatos usados, já feitos ao pé. Os mais incautos, coitados, hão de padecer! Mostram ainda o vigor que lhes escasseará logo mais, ao fim da tarde, pela hora de recolher, calcorreadas avenidas, ruas e vielas, praças, becos e travessas. A segui-las, dezenas de mancebos e homens já velhos: uns estreantes, outros repetentes. Também eles usam opas vermelhas. Os mais experientes assumem-se responsáveis pela transmissão do ofício aos mais novos e marcam o passo acelerado. Uns carregam o saco das ofertas. Coitados, são os “Judas”, como muitos fregueses lhes chamam. Nunca gostei da expressão e prefiro não a usar. Outros carregam uma pequena terrina de prata ou de estanho, onde vem santificada a água que há de benzer as casas da freguesia. Vêm lá também os leitores que, munidos de uma simples pagela, leem a oração em cada lar em que entram. E depois... bem... depois... anuncia-se o Juiz da Cruz.


Ei-Lo: Cristo que sai à rua e em breve entrará em nossas casas. Já falta pouco tempo.

As flores estão prontas. Este ano, a minha mãe colheu das azáleas brancas. Sabe que são as minhas preferidas. Foi o Filipinho, com a ajuda da Ritinha, que as acamou à entrada da nossa casa. Será por cima delas que Ele entrará!


O Compasso chegou!


É Páscoa, aleluia, aleluia!



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