A publicação da revista “Atlântida” (edição LXVI), da responsabilidade do Instituto Açoriano de Cultura, assim como a chegada aos escaparates do número 5 da revista literária “Grotta”, surgida no âmbito do projeto “Arquipélago de Escritores”, foram motivos mais do que suficientes para trazer à lembrança a velhinha “Memória da água-viva”, dinamizada pelo “G.I.C.A. – Grupo de Intervenção Cultural Açoreano”, uma “revista açoreana de cultura” que tanta polémica espoletou no seio do mundo literário de então.
Por
curiosidade, logo no editorial do número 0, datado de março de 1978, fazia-se referência
a Galileu, citando-se a sua célebre tirada, “contudo, ela move-se…”, para se
complementar, de imediato, “Ela, a minoria…”
Contornando-se
quaisquer leituras políticas que possam chegar acopladas, há que reconhecer e
lamentar que, tal como à data, também hoje aqueles que acreditam nestas coisas
da Literatura, aqueles que ainda se deixam encantar pelas peças bonitas que se
podem construir a partir das palavras representam uma ínfima minoria num oceano
imenso de indiferença. É uma realidade e, por mais esforço que se faça, por
mais que se trabalhe em sentido inverso, e há que reconhecer que muito se tem
feito na ânsia de educar nessa vertente, os resultados tardam. É indesmentível o
esforço que se faz no sentido de desenvolver nos jovens o gosto pela leitura,
promovendo ao mesmo tempo o seu sentido estético e crítico; é inequívoco o
dinamismo das nossas livrarias, assumindo não raras vezes o papel normalmente
entregue aos centros de cultura; não olvidemos as editoras regionais que têm
sido incansáveis no apoio e na promoção dos autores regionais, mais próximos do
leitor; temos à disposição um Plano Regional de Leitura e uma Rede Regional de
Bibliotecas Escolares que tanta diferença poderiam fazer nos hábitos dos nossos
jovens alunos e leitores, houvesse nisso interesse político e fundos ajustados;
existem diversas plataformas digitais que nos facilitam o acesso aos livros;
temos diversas feiras do livro; recordemos os prémios literários que procuram
homenagear aqueles que se fizeram maiores entre os pares. Lamentavelmente, ao
nível das políticas educativas, e num arriscado relancear aos movimentos dos últimos
anos, enveredou-se por caminhos sinuosos, arremessando-se milhões sobre o problema
mas, quase quarenta e cinco anos após esse movimento minoritário, os indicadores
educativos, culturais e sociais estão aí para quem os quiser analisar. O número
que se queria aumentado, continua teimosamente num patamar menor, bastante aquém
do que seria desejável numa região como os Açores.
Mas
tenhamos fé. Continuemos a resistir e não esqueçamos de olhar e enaltecer
aqueles que nos precederam; aqueles que, como então, continuam a remar contra a
maré do alheamento e, em demonstração clara de vigor, continuam a semear, em
nome de um bem maior, para além de seduzir outros a percorrer um trilho que se sabe
árduo e de retorno curto.
“contudo,
ela move-se…”, “Ela, a minoria…”
Move-se
e tem desempenhado um trabalho assinalável. Dentre esses poucos, não há como
deixar de referir os responsáveis e dinamizadores das revistas “Atlântida”
e “Grotta” que, num esforço contínuo têm conseguido manter as respetivas
publicações em patamares de considerável riqueza, manifestando-se no campo
literário, de criação ou análise, no âmbito das Ciências Humanas ou outras. Nas
edições deste ano, a aposta na vertente pictórica é também uma mais-valia
considerável, sendo que, no caso da “Atlântida” vem toda engalanada com
diversos trabalhos da autoria de Carlos Carreiro e, no caso da “Grotta”, se
apresenta toda aperaltada com ilustrações de Pedro Evangelho Lopes.
Nuno
Costa Santos (direção de), Grotta 5, Publiçor / Letras Lavadas Edições
2021/2022
Carlos
Bessa (direção-geral), Atlântida LXVI, Instituto Açoriano de Cultura,
2021
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