Os poetas - bem sabemos - são almas generosas, mas há uns que teimam em ser mais poetas do que outros! O professor Emanuel Jorge Botelho é um destes, ele que passou a "dar a cada palavra a [sua] palavra de honra".
FOLHA DE CÁLCULO
resta-me uma aspa
para fechar o dia de hoje,
e um naco de amargura
capaz de dobrar a noite
já não sei chamar pelo nome
as palavras com que me digo,
aquelas a que a mão, rasa de tempo,
ia dando casa na memória
os dias são agora coisa que me custa,
demoras de gosto ácido
hasteadas no logro da alegria
é tão bom olhar-te de mansinho, meu amor,
e esperar que o silêncio
traga o pó que nos protege.
«Manual dos Dias Cavos», Emanuel Jorge Botelho, Averno, 2021
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