quinta-feira, 27 de abril de 2017

Saudade


Desse-se o caso de a saudade enrugar, dir-se-ia que a que me acompanha e que comigo divide a existência era já vista, pelo menos, como bem entrada na idade.
A minha saudade é uma saudade adulta, bem alimentada pelo tempo e assaz nutrida pelo espaço. O distanciamento a que me sujeitei foi-lhe engordando as ilhargas, obrigando-a, hoje, a expandir-me o peito num sofrimento antigo, ao qual, por devoção, não quero dar tréguas.
Sempre lhe dei toda a atenção que, julgo, merece, mas reconheço que a minha saudade é daquelas que lacera, que faz questão de, a cada dia, se fazer notar com maior intensidade.
Não sei se se pode chegar a morrer de saudade, mas duvido, também, que se possa designar de viver uma coexistência assim, quase insuportável.
Não quero com isto dizer que, podendo, a extinguiria em mim.
NÃO! ISSO NUNCA!
É a saudade que me aguça a memória. É ela que me afia o lápis dos sentidos e me redesenha cada rosto, cada expressão, cada momento vivido e que vale a pena ser recordado.
A saudade que me habita não é de cá, não tem endereço aqui. Não se quis ilhoa, nem creio que alguma vez se venha a ilharizar. A minha saudade cresceu e vive clandestina, tem o seu próprio tempo e o seu próprio espaço.
A minha Saudade.

Telmo R. Nunes

26 de abril de 2017

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