Desse-se o caso de a saudade
enrugar, dir-se-ia que a que me acompanha e que comigo divide a existência era
já vista, pelo menos, como bem entrada na idade.
A minha saudade é uma saudade
adulta, bem alimentada pelo tempo e assaz nutrida pelo espaço. O distanciamento
a que me sujeitei foi-lhe engordando as ilhargas, obrigando-a, hoje, a
expandir-me o peito num sofrimento antigo, ao qual, por devoção, não quero dar
tréguas.
Sempre lhe dei toda a atenção que,
julgo, merece, mas reconheço que a minha saudade é daquelas que lacera, que faz
questão de, a cada dia, se fazer notar com maior intensidade.
Não sei se se pode chegar a
morrer de saudade, mas duvido, também, que se possa designar de viver uma
coexistência assim, quase insuportável.
Não quero com isto dizer que,
podendo, a extinguiria em mim.
NÃO! ISSO NUNCA!
É a saudade que me aguça a memória.
É ela que me afia o lápis dos sentidos e me redesenha cada rosto, cada
expressão, cada momento vivido e que vale a pena ser recordado.
A saudade que me habita não é de
cá, não tem endereço aqui. Não se quis ilhoa, nem creio que alguma vez se venha
a ilharizar. A minha saudade cresceu
e vive clandestina, tem o seu próprio tempo e o seu próprio espaço.
A minha Saudade.
Telmo R. Nunes
26 de abril de 2017
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