quinta-feira, 8 de outubro de 2015
sexta-feira, 4 de setembro de 2015
quarta-feira, 2 de setembro de 2015
segunda-feira, 24 de agosto de 2015
quarta-feira, 19 de agosto de 2015
sexta-feira, 14 de agosto de 2015
segunda-feira, 27 de julho de 2015
pudesse
pudesse cada pôr-do-sol levar
consigo uma tristeza
pudesse cada crepúsculo aliviar-me
um sofrimento
e seria, pois, cem vezes feliz
Telmo R. Nunes
27|julho|15
quarta-feira, 22 de julho de 2015
Pataria
Não há muito tempo ouvi por aí...
"Se a um pato lhe falta a pata, ele é manco ou viúvo?"
Estes são os guardiões da Lagoa das Sete Cidades
terça-feira, 21 de julho de 2015
segunda-feira, 20 de julho de 2015
São ilhas que habitam este “Arquipélago”. E são nossas!

"Uma verdadeira obra de arte no regionalismo universalizante que marca a literatura açoriana. Se cada ilha é um mundo, este "Arquipélago" é um universo de emoções e sensações que transpira Açores por todos os poros."*
Assim escreveu o amigo Santos Narciso, no Atlântico Expresso e, por concordar, transcrevo-o agora. Talvez divirja apenas da menção a “literatura açoriana”, que me parece redutora, especialmente quando nos referimos a obras desta qualidade. (Ainda lhe hei de falar a este propósito; oxalá não se chateie comigo :)).
Tudo o que tenho lido sobre este livro (e não é pouco) é mais do que ajustado. Não irei fazer, por isso, qualquer recensão sobre a obra, pois não iria acrescentar nada ao que já ficou tão bem dito e escrito por outros, por tantos outros, que o sabem fazer tão melhor do eu.
O que faço questão de dar conta é que há já muito tempo que não me acontecia aquilo ao que o meu avô chamava de tentear o livro e, com o “Arquipélago”, dei por mim a fazê-lo de novo e com um gozo estrondoso: poupei-me à leitura para que o deleite perdurasse.
Por isso e por tudo, obrigado, Joel!
*https://www.facebook.com/josemanuel.santosnarciso/posts/923424444389527
quarta-feira, 15 de julho de 2015
Memória das Minhas Putas Tristes

Tal como já tive oportunidade de o
reiterar aqui mesmo neste espaço, não sou grande apologista de Literatura
recomendada, dou mais-valia à descoberta por meios próprios e após a leitura e
posterior análise, efectuar a avaliação ao documento lido.
Muito menos aprecio quando o livro é de outrem e não meu, impossibilita-me o
seu livre e descuidado manuseamento, obriga-me a uma leitura com maior ou menor
prazo, já que há que devolver o que a outros pertence. Para além disso, vejo-me
sujeito a uma certa cautela, já que, uma página rota ou de outra forma violada,
significa o ter de prestar muitas explicações. Mais ainda, não há nestas
circunstâncias o desflorar das páginas virgens da recente compra, não há o
avolumar da resma dos que para trás ficaram lidos…
Ainda assim, e porque em torno deste,
circunstâncias muito especiais existiram, optei por contrariar o que tanto
prezo numa boa leitura e, não só me deixei levar por uma recomendação de uma
amiga e grande apreciadora literária, como também decidi ler a obra num livro
que não me pertence.
Apesar de tudo não me arrependo.
Devo dizer que desde há muito tempo
me suscitava interesse este título tão peculiar. Ora, advindo de um Nobel e
reconhecendo que para o ser há que escrever com uma enormíssima qualidade, foram
realmente três anos de namoro que agora findam com o desfolhar da última página
de tais “Memórias”.
«No ano dos meus noventa anos quis
oferecer a mim mesmo uma noite de amor louco com uma adolescente virgem (…)»,
assim se iniciam um conjunto de recordações fictícias (julgo) por parte de um
jornalista nonagenário boémio e agastado por uma vida levada aos píncaros no
campo sexual, repleta de emoções fortes, vividas nos diferentes bordeis das
cidades por onde circulava. Memórias de um bon
vivan, que nem aos noventa o quis deixar de ser…
Nesta obra Márquez consegue desnudar
o sentimento pelo qual todos passamos mais cedo ou mais tarde: o medo de
envelhecer, de nos tornarmos decrépitos aos olhos dos outros e às vistas do
mundo. É algo transversal ao ser mortal e gastável, muito embora muitos teimem
ainda negar tais pensamentos. Pura ilusão destes! Primeiro porque não enganam o
tempo e depois não ludibriam para sempre o próximo. Todos iremos passar por uma
situação assim, venha ela antes ou depois da real velhice. Ninguém está
preparado para ser ou sequer para parecer velho. Todos suspeitamos e queremos
acreditar que os adjectivos bom e velho só coexistem se do éter do Douro
estivermos a falar, daí ninguém querer parecer gasto mas todos anseiam
continuar bons, todos queremos crer sermos também “refinadas castas nos vales
luminosos plantadas”.
O “velho sábio” de Márquez
reconheceu isso mesmo a um dia de iniciar a sua nona década de existência,
outros senti-lo-ão mais cedo…
Não há forma de evitar o inevitável.
Por mais cuidados, cremes, intervenções que se paguem, o tempo não perdoa nem
sequer tem preço: é para esses, os que não sabem envelhecer, uma luta desigual,
perdida à nascença. Exteriormente podemos até enganar os desconhecidos, os
menos atentos, mas no íntimo não nos embustearmos nem a nós próprios sequer.
Resignemo-nos e aprendamos a viver as emoções que
cada idade nos quer oferecer, ou podemos simplesmente tentar ludibriarmo-nos e
tomarmos partido do patético, do ridículo, tentando, em vão, mostrar ao mundo que
somos diferentes, especiais e que o tempo por nós não ousa passar… Será essa a
ideia mor a transmitir nesta obra de García Márquez.
O livro é bom. Agradou-me em pleno a
forma como é escrito. O conteúdo, a história, a acção narrada não justifica três longos anos de namoro; um flirt,
talvez!
Ainda assim é dele, e ele é só um Nobel da Literatura.
Recomendo, pois!
Telmo R. Nunes
26/04/08
quinta-feira, 9 de julho de 2015
in Açoriano Oriental
«Sim, pode
amar-se uma casa como se ama uma pessoa»
Joel Neto, in Arquipélago
Nestes
dias de maior calmaria laboral, providenciada pelo Estio que tarda em
assumir-se, revisitei O Pastor das Casas
Mortas, novela última escrita pela mão do professor Daniel de Sá. Devo,
aliás, confessar que foi a primeira leitura em português, dado que
anteriormente apenas lera a tradução, em inglês.
A
obra, revestida de uma opulência textual, retrata de forma ímpar o abandono de
um “Portugal ultrapassado” que muitos desconhecem e que outros tantos tudo
fazem por esquecer, assim como contrapõe a desertificação desse interior
continental, com a crescente centralidade litoral. Para tal, Daniel de Sá recria
a quietude de uma pequena povoação serrana afetada pelo progressivo êxodo dos
seus habitantes, erigindo-a na segunda metade do século passado.
Recorrendo
a uma dolorosa enumeração que se
estende ao longo de todo o texto, Daniel de Sá dá conta da partida das pessoas
da Aldeia Nova da Serra. Uma após outra, é relatada a viagem de cada habitante desta
pequena povoação, erguida nos pináculos
do mundo: não só daqueles que buscaram, longe, melhores condições
económicas, como também dos outros que fizeram a travessia última de toda uma
vida. Com o tempo, restou apenas Manuel, o pastor que chamou a si a
responsabilidade de manter dignas todas as casas da aldeia, preservando a
lembrança daqueles que nela viveram; perpetuando a memória de um tempo ido, de
um tempo feliz! “Foi pela casa da Rita que Manuel Cordovão começou a tentar
manter a aldeia com ar de estar ainda viva, ou pelo menos em condições de
receber a vida, se a vida voltasse algum dia a precisar de abrigar-se nela.”.
Na
novela há também espaço aos sentimentos, concedendo-se especial enfoque à
saudade e ao amor. Este é, aliás, o sentimento dominante e que instiga toda a
trama. Ele existe não apenas entre homem e mulher mas, sobretudo, entre o
pastor e a sua própria origem. Se por um lado há uma relação afetuosa, ainda
que contemplativa, entre Manuel e Graça, por outro é notório o sentimento que Manuel
nutre pela sua aldeia de sempre! Ele que não ousou partir; ele não quis alancar
e decidiu, por amores, ficar a “guardar-lhe as memórias”. Não será a abnegação
de Manuel uma forma sã de amar?
Os
capítulos que alinham a novela - trinta e um, no total - são de uma riqueza eminente!
Pequenas histórias revestidas por uma mescla temática, ainda que todas assentem
numa ruralidade beirã que tão bem as une e distingue. Nelas são descritos objetos,
lançados cheiros e criados ambientes, vive-se uma sucessão de personagens e
espaços, numa fusão exímia de perspetivas que colocam em confronto, ainda que
ténue, a quietude da ruralidade e a azáfama da urbanidade, almeja-se o “(…) câmbio
entre o Purgatório e o Paraíso.” Se por um lado a vivência no alto da serra, pejada
pela rudeza do pastoreio, com “(…) chuva grossa, basta, anunciada por
relâmpagos e trovões (…)” é tida como aspeto telúrico fundamental na criação da
personagem protagonista, Manuel Cordovão, por outro, a ‘incerteza’ de uma vida
melhor reside numa emigração bem sucedida para a França, Suíça, Luxemburgo, ou,
pelo menos, numa partida mais ou menos definitiva para a capital da metrópole.
Como
em Ilha Grande Fechada, por exemplo,
também nesta obra Daniel de Sá consegue matizar todo um retrato nacional de
época partindo de um conjunto de textos que, encadeados, não só conferem uma
singular robustez à novela, como também adquirem uma capacidade ilustrativa
muito pouco usual. Facilmente se visualiza nestas linhas a fuga dos milhares de
portugueses, em meados do século passado, desde o medo na raia fronteiriça, até
ao alívio nos países europeus mais desenvolvidos da época. Saliente-se também a
crítica de costumes, assim como a sátira refinada à mesquinhez e à maledicência
humanas, presente por todo o texto e materializada, sobretudo, na voz do povo, tribunal temível que brada em surdina:
“Apesar (…) não haver provas de ter sido posta à prova a resistência das
muralhas do seu pudor, a fama era ruim, tão ruim como a sua beleza. E, se
alguma voz (…) se dispunha a defendê-la, logo havia uma boca a garantir que se
Laura era honesta não o seria por vontade própria mas porque os homens da serra
tinham o juízo no seu perfeito lugar.”
Do
ponto de vista do leitor tradicional, com esta novela, dedicada “Às mulheres e
aos homens que ainda acendem o lume nas últimas aldeias de Portugal”, Daniel de
Sá demonstrou, uma vez mais, a sua efetiva mundividência, a sua enorme
capacidade de absorver e assumir realidades que habitualmente não eram próximas,
de as filtrar através de uma enorme sensibilidade e humanismo, e de as
reinventar, valendo-se, para tal, de uma invejável e escorreita capacidade
discursiva. Por outro lado, e segundo a opinião de um restrito número de
estudiosos da obra de Daniel de Sá, esta terá sido uma narrativa desenrolada
geograficamente bem longe da Beira Alta. Para estes, O Pastor das Casas Mortas, terá sido, sobretudo, uma viagem à
infância e memórias do autor, uma navegação rumo à sua “Ilha-Mãe”, a ilha de Santa
Maria, à qual Daniel de Sá declarou o seu amor: “Foi meu pai São Miguel, minha
mãe, Santa Maria, e se se pode ter dupla nacionalidade, por certo poderá ter-se
dupla “insularidade””.
Por
tudo quanto fica supramencionado, e tal como afirmou Francisco Cota Fagundes, e
tantos outros, Daniel de Sá foi “um dos grandes escritores portugueses dos
últimos 50 anos e um dos maiores da literatura açoriana de sempre”.
Vale
a pena ler autores açorianos!
Telmo
R. Nunes
a
3 de julho de 2015
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