Foram já diversos os livros
que li escritos pelo norte-americano Paul Auster. Aqui mesmo teci alguns
comentários às ditas composições e, em todas lhes reconheci grandes méritos,
ora pela história narrada, ora pela estrutura externa, pela tipologia de
linguagem, pelo estilo de escrita, etc; na realidade é um autor fabuloso, um
dos meus predilectos.
Segundo rezam as suas diversas
biografias, Auster sobressai-se como escritor, argumentista, tradutor,
ensaísta, realizador, marinheiro, inventor de um jogo de cartas entre outros
ofícios. Assim, com a atenção dispersa por tantos e tão diversificados focos de
interesse, como poderá este homem ser realmente bom em qualquer que seja a
actividade?
A explicação chegou-me na última
composição que li sua. Em “Da Mão para Boca”, o autor (d)escreve-se de uma
forma tão real, intimista e pormenorizada que, para além de nos colocar a par
do seu início atribulado de carreira literária, abre-nos, também, o seu próprio
mundo; narra-nos as dificuldades atravessadas até ao estrelato, as batalhas constantes contra as inúmeras adversidades;
dá-nos uma verdadeira lição de vida no atinente à defesa dos ideais próprios de
cada indivíduo; é-nos descrito todo um processo vivencial antagónico: a fuga à
canonização da escrita em demanda da importância monetária, e a necessidade de
o fazer para alimentar as necessidades corpóreas – acto que o arremessa à
profunda desilusão e ao limite das suas crenças!
Escrito numa linguagem acessível
aliás, apanágio seu, “Da Mão para a Boca”, ganha também relevo pela forma como
o autor descreve as adversidades causadoras de tamanhos tumultos ao longo da
sua vida. É impressionante como consegue relatos descritivos absolutamente
geniais acerca de situações de extrema complexidade e, acredito, causadores de
enorme frustração. É certo que muitos anos passaram, e muitos sucessos advieram
desde então, o que lhe permitirá um relato distanciado e até saudosista,
arrisco, mas, ainda assim, conseguir expor momentos tão marcantes de uma forma
tão singela, natural e até literariamente enriquecida, não está, de facto, ao
alcance de qualquer um!
A ser, na realidade, plenamente
autobiográfico, como o próprio afirma, torna-se, deveras, uma composição única,
um texto inteligente, “um livro soberbo. Uma lição de vida (…).”
01/Maio/2010
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