Este
plantador de palavras e ao mesmo tempo vendedor de cantatas é o auto-denominado
“melhor escritor vivo da Rua Direita da cidade de Angra do Heroísmo”, mas que
na realidade, vive na cidade de Coimbra há mais de 30 anos!
O
título deste escrito é o mesmo de uma das suas obras, ganhadora, aliás, do 1º
Prémio Miguel Torga, em 1984.
Trata-se
de uma composição escrita fabulosa, dotada de um realismo satírico e de uma
comicidade muito pouco frequentes em autores portugueses contemporâneos.
Nostálgico
q.b., Vasco Pereira da Costa relembra e retrata a sua cidade berço de uma forma
peculiar, cómica, satírica e por tantas vezes mordaz – […isto não é a Itália. É a mui nobre leal e sempre constante
cidade de Angra do Heroísmo]. Irónico como só ele próprio o sabe, pinta um
retrato muito pouco ficcionista, permitam-me a opinião, duma gente do seu
passado, de uma sociedade ida, mas por demais marcada na sua adolescência.
Neste
livro o autor não se sente impedido de comunicar directamente com os seus
leitores, dando-lhes explicações adicionais para que a mensagem seja passada na
sua íntegra. Ele fala connosco para que melhor percebamos a sociedade angrense
de outros tempos, desloca-nos o pensamento a anos idos e situa-nos ‘num meio
urbano tão rural’ como qualquer outro hoje em dia. Conduz-nos por uma cidade onde
um governador civil e três governadores
militares; cinquenta e sete prostitutas; dezanove bombeiros voluntários que
voluntariamente vão de borla ao cinema; vinte e cinco meninas que namoram à
janela, e estatísticas de ontem, catorze desfloradas de saguões; (…) três
parvos oficiais (…) quarenta e sete bêbados e oito senhores que andam às vezes
alegrinhos (…) sessenta e nove caloteiros identificados com o indicador da mão
direita (…) coexistem de forma mais ou menos letárgica com figuras como
Dona Carlota, a Irmã do Senhor Almirante.
Possuidor
de uma capacidade de escrita ao alcance de muito poucos, nomeadamente no campo
da lexicologia e da significação, ler Vasco Pereira da Costa revela-se um
exercício moroso, por vezes extenuante, mas sempre efusivo, já que sabemos de
antemão que na “próxima linha” um sorriso maior em nós se desenhará.
Assim é este senhor, assim é este autor, um
verdadeiro ficcionista das nossas realidades.
É imperdoável que não se
lembrem do encontro de Nixon com Pompidou na ilha Terceira – tão importante
como o passo da humanidade do Amstrong ou como os 5-3 à Coreia no Mundial de
66. Decerto que não vos caiu da memória como uma noz podre…
Não
o ler é crime!
Fotografia: @ google
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