Embora já
familiarizado com a coleção Heróis à Moda
de…, devo confessar que apenas recentemente li o volume que visa ‘representar’
o arquipélago dos Açores.
Atendo-me à
coleção, expresso total agrado para com os objetivos preconizados pelo seu
coordenador geral, João Carlos Brito, no jornal Açoriano Oriental [on-line] de 26 de julho
de 2013, onde manifestou intenção de imortalizar “palavras e expressões
típicas dos falantes dos Açores”, assim como “abordar os regionalismos, as
chamadas linguagens marginais, calão, gírias de um determinado grupo de
falantes”. Especulo que um dos traços deste projeto passasse, ainda, pelo
emprego de tais vocábulos e/ou expressões tipicamente açorianos em contos que
versassem feitos de heróis das ilhas.
Para qualquer
amante (não purista) da língua, estes volumes
geográficos serão um verdadeiro gáudio literário. Para além disso, esta vertente
da língua portuguesa, do léxico, em particular, está efetivamente em agoniante
necessidade de preservação logo, todo o apoio que se lhe possa prestar será,
com toda a certeza, bem-vindo.
No entanto, a
literatura (especialmente a apoiada pelas entidades públicas) não pode ser
apenas entretenimento e, finda a leitura de “Heróis à moda dos Açores”, fiquei
com a triste sensação de que para parte dos intervenientes nesta edição açórica,
não passou disso mesmo, tal é a dicotomia que vislumbro em termos de qualidade
textual.
Deceção foi o
sentimento geral experimentado! Malogradas expetativas, momentaneamente
alimentadas aqui e além por quem optou por impor um pouco mais de alma neste,
que tinha muito para ser um grande projeto. Julgo que os Açores mereciam mais e
melhor, e açorianos com a capacidade para o fazerem, também os há! Ou então,
menos e melhor: subtraísse-se à coletânea ‘metade’ dos textos editados e
conseguiríamos ir além do primário, do rudimentar, do mau!
Alguns dos escritos - os bons - são verdadeiros contos.
Composições que cumprem com o desígnio de qualquer texto imerso em literariedade. Estes levaram-me além do
lugar e do tempo em que foram descritos. Compaginando cada ação narrada, vi-me
absorto pelo meio ambiente que eu próprio ia idealizando, recreei cada ação
levada a cabo pelas personagens que eu próprio fui construindo, tal a qualidade
emprestada às descrições, acrescido de momentos hilariantes, mormente criados
pelo léxico empregue. Nestes, para além de entrever os objetivos originais da
coleção, reconheço-lhes qualidade mais do que suficiente para que cumpram o
propósito inicial da compra, para que os possa lecionar aos meus alunos, sem
qualquer receio de os prejudicar nas suas aprendizagens ou no desenvolvimento
de competências, já que reconhecerão, com toda a certeza, parte do seu património
oral, tradicional.
Quanto aos
outros, por certo não serei eu a dá-los a conhecer aos aprendentes que tenho ou
terei pela frente. Não valem a pena, nem cabem nesta coletânea. Não percebo
como aqui chegaram mas não passam de meras frases pautadas com algumas palavras
foneticamente semelhantes “aos dizeres açorianos”. Funde-se o bom e o muito
mau, no que me parece uma paupérrima tentativa de se elevar alguns dos que
moram atrás do texto.
Lamentável!
foto @google
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