
Segundo rezam as suas diversas
biografias, Auster sobressai-se como escritor, argumentista, tradutor,
ensaísta, realizador, marinheiro, inventor de um jogo de cartas entre outros
ofícios. Assim, com a atenção dispersa por tantos e tão diversificados focos de
interesse, como poderá este homem ser realmente bom em qualquer que seja a
actividade?
A explicação chegou-me na última
composição que li sua. Em “Da Mão para Boca”, o autor (d)escreve-se de uma
forma tão real, intimista e pormenorizada que, para além de nos colocar a par
do seu início atribulado de carreira literária, abre-nos, também, o seu próprio
mundo; narra-nos as dificuldades atravessadas até ao estrelato, as batalhas constantes contra as inúmeras adversidades;
dá-nos uma verdadeira lição de vida no atinente à defesa dos ideais próprios de
cada indivíduo; é-nos descrito todo um processo vivencial antagónico: a fuga à
canonização da escrita em demanda da importância monetária, e a necessidade de
o fazer para alimentar as necessidades corpóreas – acto que o arremessa à
profunda desilusão e ao limite das suas crenças!
Escrito numa linguagem acessível
aliás, apanágio seu, “Da Mão para a Boca”, ganha também relevo pela forma como
o autor descreve as adversidades causadoras de tamanhos tumultos ao longo da
sua vida. É impressionante como consegue relatos descritivos absolutamente
geniais acerca de situações de extrema complexidade e, acredito, causadores de
enorme frustração. É certo que muitos anos passaram, e muitos sucessos advieram
desde então, o que lhe permitirá um relato distanciado e até saudosista,
arrisco, mas, ainda assim, conseguir expor momentos tão marcantes de uma forma
tão singela, natural e até literariamente enriquecida, não está, de facto, ao
alcance de qualquer um!
A ser, na realidade, plenamente
autobiográfico, como o próprio afirma, torna-se, deveras, uma composição única,
um texto inteligente, “um livro soberbo. Uma lição de vida (…).”
01/Maio/2010