domingo, 13 de outubro de 2013

Indisciplina e liberdade




A escassos meses da comemoração do 40º aniversário do 25 de abril de 1974, a escola pública continua a procurar dar respostas às necessidades e aos desafios da modernidade pedagógica, aos novos imperativos legais impostos pelas sucessivas políticas educativas dos nossos Governos e, em última instância, às ânsias das famílias e dos alunos, em particular.
Como outros o dirão bem melhor, o legado do “25 de Abril” valorizou sobremodo a posição do aprendente; desaparece a conceção de escola nacionalista e inculcadora de valores partilhados por uma minoria, abrindo portas à escola democrática onde todos os alunos têm acesso igualitário à escolarização. Abandona-se a ideia da escola severamente elitista e chega-se à universalização.
São motivos de orgulho e louvor mas, se nos congratulamos com eles, devemos também ter noção dos problemas que esta mesma massificação do ensino acarreta.
Nestas quatro décadas de coexistência da escola com o regime democrático muitas foram as vicissitudes que a assolaram, e creio também que todas elas terão sido alvo de atenção particular por parte dos seus intervenientes diretos. Indubitavelmente, uns terão feito melhor do que outros, uns terão resolvido problemas, outros intensificaram-nos, mas sinto que todos procuraram contribuir para o engrandecimento desta grande instituição.
Por conseguinte, se há hoje um tema que suscita enorme polémica no seio de toda a comunidade escolar, e não apenas numa escola em particular, é a questão da indisciplina. Este é um conceito susceptível de diversas interpretações, contudo, genericamente, entende-se por aluno indisciplinado aquele que de forma sistemática ou mesmo casualmente apresenta posturas e/ou comportamentos tidos como desviantes da norma imposta, não apenas pelo docente em contexto de sala de aula mas, essencialmente, pela fuga ao cânone do saber estar em sociedade.
Apesar da indisciplina (segundo diversos autores) estar inscrita no nosso código genético, o meio e, essencialmente, os padrões referenciais, nomeadamente a postura parental, representam numa criança uma poderosa força que a poderá conduzir a atitudes incorretas e por tantas vezes até perigosas!
Hoje em dia as manifestações mais profundas de indisciplina acontecem paulatinamente, mas as outras, na sua forma mais simples, tornaram-se uso comum na escola. O aluno de hoje já não retira o boné ou o capuz assim que entra numa sala de aula, não pede sequer licença para o fazer, recusa-se liminarmente a trabalhar, não respeita o horário escolar, nem possui a postura exigível a um aprendente a cidadão responsável, dotado de Valores cívicos. Sim, essa também é a função da escola, desenvolver indivíduos socialmente dignos mas, dados os entraves, essa é uma tarefa cada vez mais árdua e, em alguns casos mais gravosos, mesmo impossível.
Há Valores que não se adquirem na escola mas sim em contexto familiar, mas há também, e infelizmente, cada vez mais agregados que se demitem dessa responsabilidade, arremessando aos docentes esta tarefa naturalmente sua! Já houve forma de socialmente responsabilizar estes encarregados de educação, de lhes mostrar que não estavam à altura do cargo mas, segundo leio no Novo Estatuto do Aluno dos Ensino Básico e Secundário, “era de difícil aplicação”…
Em quase quatro décadas de existência e sob o desígnio da Liberdade (por tantas vezes confundida com libertinagem) e, com a anuência política de quem cria sistemas permissivos e, de alguma forma, protetores dos alunos que prevaricam, os casos de indisciplina não têm desaparecido, têm antes colocado em questão a liberdade dos outros alunos que, não sendo indisciplinados, veem a sua liberdade de aprender, o seu direito à escolarização completamente postos em causa.

08.outubro '13
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